Eu já estava quase desistindo de postar aqui. Ando pouco inspirado para falar de futebol da maneira que mais gosto, que é através da análise, mas também da memória afetiva. Tenho me lembrado pouco dos momentos do esporte que vivenciei e assistido a poucos jogos, a fim de atualizar meus conhecimentos. Todavia, voltei. Lamento, entretanto, ser movido por uma nota triste. A morte do grande Jorge Mendonça.
Eu não o vi jogar, a não ser raras vezes, mas conheço sua bela história no futebol brasileiro. E me entristeço por constatar que ele é um dos inúmeros gênios melancólicos do futebol nacional. Triste e trágico como Heleno de Freitas, como Almir Pernambuquinho, como Garrincha, como Dener.
Jorge Mendonça, carioca de nascimento, foi um dos maiores jogadores da história do nosso futebol. Jogou no Bangu, no Náutico, no Palmeiras, no Guarani, na Ponte Preta, na Seleção Brasileira, entre outras equipes. Fez o gol do título do Palmeiras no Paulistão 76, contra o XV de Piracicaba, atuou pelo Brasil na Copa de 78, mas seu feito que mais me impressionou foi ter sido artilheiro do Campeonato Paulista de 1981, com 38 gols, quando atuava pelo Bugre. Eu me lembro que li numa edição de Placar daquele ano - ainda que alguns anos depois - que Jorge Mendonça e Roberto Dinamite lutavam pelo título de goleador da temporada e que somente ele depois da Era Pelé houvera ultrapassado a barreira dos trinta gols naquele tradicional certame. O título acabou ficando com ele, se não me falha a memória. A segunda Academia Palmeirense tinha no ponta-de-lança uma de suas estrelas maiores, senão a maior. Era esguio e clássico. De belo toque de bola e habilidade. Jogava sempre de cabeça erguida sem olhar para a redonda, como reza o figurino dos craques. E jogou muita, muita bola. Nada obstante, sua história foi triste.
Mendonça, conforme uma de suas poucas aparições após o encerramento da carreira, esta no Terceiro Tempo, apresentado por Milton Neves, na Rede Record, sofreu graves reveses financeiros, provocados pelos familiares. Sua esposa e seu cunhado teriam-no prejudicado, graças às procurações que passara para aquele administrar seus bens. Perdeu tudo e foi abandonado pela família. Triste demais. Dizer se merecia, ou não, é um exercício escatológico-filosófico que não me atrevo nem quero fazer. Só sei que seu futebol é maior que sua história pessoal, em termos de vitórias e alegrias.
Albert Camus escreveu, certa vez, que as maiores lições que aprendeu na vida, aprendeu-as por ter sido jogador de futebol. Eu tenho impressão que sim. Pode-se aprender muito sobre Ética por meio do futebol. Mas a Ética ainda tem muito mais a nos ensinar, nos jogos do esporte e da vida. Principalmente sobre a volatilidade de tudo que é efêmero, como a fama.
Volto a postar aqui, esperando que a minha tristeza também se faça efêmera.
Um comentário:
Retorno triste, mas feliz!!! Pô, demorô!!! Eu é que já estava desistindo...
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